Sou gaúcha

Adentraram o quarto e fecharam a porta. Uma sentou à cama e a outra se manteve em pé, apoiada ao armário.
– Mas o que é que “temos que conversar?”
– Na verdade é apenas um conselho de amiga.
– Então me lembra uma coisa: em que momento tu passou à frente de mim em questão de experiências?
– É sobre isso mesmo que quero falar.
– Que?
– Não complica, só me deixa falar.
– Não prolonga, fala.
– É só que eu te peço para que não subestime as pessoas.
– Que?
– É isso.
– Não entendi o motivo.
– É claro, tu subestima todos. Te acha mais inteligente por que estuda humanas, lê filósofos importantes, divaga sobre a vida, mas esquece da humanidade dos outros.
– Hum? Que complicação é essa agora?
– Não é de agora, é de sempre. Escuta o que os outros tem a te dizer, tu pode aprender.
– Uhum, tá.
– Como agora. O que tu tem a perder só por me escutar? Na verdade tu pode ganhar.
– Engraçado tu me dizer isso enquato quem está se achando superior é tu mesma.
– Por favor…
– Só sabe dar críticas?
– Por favor, tu não tá escutando.
– Tô, e tô aprendendo aqui como é difícil receber críticas. Eu e tu somos exemplos. Deixa eu ir agora, tenho muito que estudar.
– Viu?
– Tchau.
– Espera…
Não esperou. Levantou da cama – ou talvez tenha desencostado do armário -, abriu a porta, passou para o lado oposto do quarto, e a fechou novamente, sem fazer qualquer barulho.



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