No dia em que eu nasci

No dia em que eu nasci, avistei um sorriso e escutei os dizeres de meus pais. Disseram que eu nascia livre, dentro de uma democracia. Os caras pintadas iam às ruas para derrubar o corrupto. Fiquei sabendo que no meu futuro, eu poderia escolher meus governantes. Não entendi a ligação de eu ser livre mas ter quem me governe, entretanto era a liberdade que eles conheciam. A ditadura está morta, diziam. Eu escutei tudo e imaginei o mundo lindo que eu estava prestes a viver. Eu havia escolhido certo onde pousar. No dia em que comecei a entender, vi que não era nada disso. A ditadura estava viva, mas os livres não sabiam. Ela vinha mascarada de democracia e se dizia igual para todos. Eu vi a mentira, eu vi a opressão, eu vi a agressão. A propaganda me seduzia, a alienação me sufocava, mas nada me cegava. Eu via claramente, e via o que tentavam esconder. Eu tudo via e nisso sabia que tudo podia. A cada derrubada, perguntavam se era certo. Essa pergunta eu não entendia. Eu moro num porto, que uma vez disseram ser alegre, mas que até hoje só me fez chorar.

Primeiro Sangue



Deixe um comentário

Site no WordPress.com.