Para ler ouvindo

“Sob a magia do dionisíaco não só se fecha novamente a aliança entre homem e homem; também a natureza estranha, inimiga ou subjugada, torna a celebrar sua festa de reconciliação com seu filho perdido, o homem. Espontaneamente oferece a terra as suas dádivas, e pacíficas se aproximam as feras das rochas e do deserto. O carro de Dionísio está coberto de flores e coroas; sob seu jugo marcham a pantera e o Tigre. Transformando-se a “Canção da alegria”[5] de Beethoven numa pintura, e não se ficando atrás com a imaginação quando os milhões[6] no pó se afundam; então é possível aproximar-se do Dionisíaco. Agora é o escravo homem livre, agora todas as cadeias fixas, inimigas se rompem que, pela penúria, pelo capricho ou pela “moda insolente” foram estabelecidas entre os seres humanos. Então, por ocasião do evangelho da harmonia mundial, cada qual se sente com o seu próximo, não somente unido, reconciliado, fundido mas uno, como se o véu da Maia tivesse sido partido e somente ainda revoluteasse ante o misterioso Uno-Primitivo. Cantando e dançando se externa o homem como membro de uma comunidade elevada. Ele esqueceu o andar e o falar e está em caminho de, dançando, elevar-se nos ares. Seus movimentos manifestam encantamento. Assim como agora falam os animais e a terra produz leite e mel, também dele soa algo de sobrenatural. Ele se sente um deus, vagueia ele mesmo agora tão extasiado e excelso como, em seus sonhos, via vagar os deuses. O homem não é mais artista, é obra de arte; a potência artística da natureza inteira, para a máxima satisfação do Uno Primitivo, aqui se externa sob os estremecimentos da embriaguez. A argila mais nobre, o mármore mais precioso aqui é trabalhado. É o homem. E aos golpes de cinzel do artista Dionisíaco mundial, soa o chamado misterioso de Eleusis: “Vós vos precipitais, ó milhões? Pressentes o criador, ó mundo?”
NIETZSCHE, Friedrich. A ORIGEM DA TRAGÉDIA – Proveniente do Espírito da Música. Fonte Digital: Editora Cupolo, 1948. p. 28-29.

Procurei saber um pouquinho mais sobre a “Canção da Alegria”, de Beethoven. Descobri (na querida Wikipédia) que é o quarto movimento da 9ª Sinfonia. E mais:
“Beethoven compôs este texto em 1823, inspirado no poema “Ode à Alegria”, de Schiller, escrito em 1785. Neste poema Schiller expressa uma visão idealista da raça humana como irmandade, uma visão que tanto este como Beethoven partilhavam.
Porém, este poema não foi oficialmente adoptado nem pelo Conselho da Europa, nem posteriormente pela União Europeia, permanecendo como um hino sem letra, pois a música é uma linguagem universal e per se obtém o mesmo efeito de como se fosse cantada, este Hino expressa os ideais de liberdade, paz e solidariedade, ideais estes que a Europa e as suas instituições como um todo querem e ambicionam prosseguir.”
Deliciem-se:



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